quinta-feira, 1 de maio de 2014

Paulo Galindro na BE de Tourais/Paranhos


Poema do mês de maio

O menino de sua mãe

No plaino abandonado
Que a morna brisa aquece,
De balas trespassado-
Duas, de lado a lado-,
Jaz morto, e arrefece.

Raia-lhe a farda o sangue.
De braços estendidos,
Alvo, louro, exangue,
Fita com olhar langue
E cego os céus perdidos.

Tão jovem! Que jovem era!
(agora que idade tem?)
Filho único, a mãe lhe dera
Um nome e o mantivera:
«O menino de sua mãe.»

Caiu-lhe da algibeira
A cigarreira breve.
Dera-lhe a mãe. Está inteira
E boa a cigarreira.
Ele é que já não serve.

De outra algibeira, alada
Ponta a roçar o solo,
A brancura embainhada
De um lenço… deu-lho a criada
Velha que o trouxe ao colo.

Lá longe, em casa, há a prece:
“Que volte cedo, e bem!”
(Malhas que o Império tece!)
Jaz morto e apodrece
O menino da sua mãe


Fernando Pessoa

Filme do mês de maio

A mágica e apaixonante história verídica da família mais popular do cinema.

Maria é uma espirituosa mulher que deixa o convento para se tornar ama dos sete filhos do Capitão Von Trapp, um aristocrata viúvo cujas regras não deixam espaço para música e divertimento.





Livros do mês de maio

«Pode ser que a mãe tenha pedido a esse pássaro para ir ter contigo à tua sala, para te fazer companhia...
 A ideia era boa demais, mas tão apetecível que não resisti a perguntar:
 - Achas que a Mãe, agora, pode falar com os pássaros, Clara?...
 - Porque é que não há de poder? Ela não está no Céu? Os pássaros não andam por lá também? Então?!
 Os olhos encheram-se-me de lágrimas da mais pura alegria.»

 Da cumplicidade entre duas irmãs e da sua capacidade para enfrentar a mais difícil situação das suas vidas se faz este livro escrito com a mestria e a sensibilidade a que nos habituou Maria Teresa Maia Gonzalez.

Maria Teresa Maia Gonzalez, licenciada em Línguas e Literaturas Modernas, coautora da coleção "O Clube
das Chaves", da qual já se publicaram 21 volumes, é autora de inúmeras outras obras, incluindo vários títulos premiados. "A Lua de Joana", o seu maior sucesso editorial, já conta com 16 edições e 220 000 exemplares vendidos. O seu livro, "O Pai no Tecto", tem sido igualmente bem recebido pelos jovens leitores e professores.
É uma das mais vendidas e prestigiadas autoras portuguesas de livros dedicados a crianças e jovens adolescentes. Inicia com a publicação deste livro na Principia, uma colaboração na área dos livros para crianças e jovens adolescentes, com livros cujo conteúdo pretende transmitir uma mensagem espiritual e um sentido de religiosidade adaptado à idade do público alvo.

«No dia do nosso aniversário, depois de a Mãe ter feito os bolos, os pastéis e os pudins, ainda vai à porta receber, com um sorriso, todos os nossos amigos barulhentos.» «Ser santo é viver no mundo real e ir ao encontro das pessoas que Deus colocou no nosso caminho e amá-las. Para muitos de nós, essas pessoas são a nossa própria família.»





Romance da autoria de Júlio Dinis, inicialmente aparecido em folhetins com o título Uma Família de Ingleses e subintitulado Cenas da Vida do Porto, foi publicado em 1868. Enquanto Camilo retratava o velho mundo da aristocracia fatalista e em decadência, Júlio Dinis aborda um mundo novo em cujo desenvolvimento acredita. No período durante o qual escreveu, entre 1858 e 1870, vivia-se uma fase de acalmia que propiciava o fomento das obras públicas. Todos os valores da burguesia crente no êxito da boa vontade e da iniciativa individual pareciam então catalisadores de progresso. Júlio Dinis emerge deste otimista meio burguês. Ao mesmo tempo, será ele que sustentará a sua obra, através da leitura dos folhetins em que ela é inicialmente publicada e onde se afirma como fulcro de uma fase decisiva da ficção portuguesa - o romance de tema contemporâneo.
António José Saraiva nota que, ao contrário de Eça de Queirós, capaz de analisar objetivamente as instituições que representa nos seus romances, Júlio Dinis identifica-se de tal modo com o meio que representa que parte desde logo, não da realidade, mas de construções ideais. Isto torna-se óbvio em Uma Família Inglesa, se atentarmos na tipificação caricatural da maior parte das personagens ou na idealização extrema de Jenny, «anjo do lar» quase ubíquo da família Whitestone que leva o próprio narrador a referir-se-lhe como «tão celestial que se espera a cada passo vê-la desprender-se da terra e dissipar-se», confiando-lhe o poder de resolver todas as crises, embora não a dote de grande densidade psicológica.
Uma Família Inglesa é um romance exemplar da sua técnica narrativa. A ação evolui nos diversos espaços físicos e sociais portuenses, essencialmente caracterizados pelo meio comercial do Porto, geradores de ambientes e caracterizadores das personagens: o elegante bairro da colónia britânica, residência da família Whitestone; a Rua dos Ingleses, ao tempo o centro da vida comercial e financeira do Porto, onde se situa o escritório de Richard Whitestone, inglês dono de uma grande firma de exportação, e onde trabalha Manuel Quintino, o modesto e obediente guarda-livros, cujos ambientes caseiros o romance nos dá a conhecer; o espaço da boémia, onde se movem Carlos Whitestone, jovem herdeiro da família, e os seus amigos, que inclui o célebre Café Guichard e o Águia de Ouro, palco da festa de Carnaval onde Carlos se cruza com a mulher misteriosa que virá a ser Cecília; a Foz, escolhida por Jenny e Cecília para local de confidências e desabafos, etc.
O enredo aparentemente sentimental que realiza o velho esquema da Gata Borralheira culminará no casamento de Carlos com Cecília, filha de Manuel Quintino. Contudo, a crise novelesca não envolve apenas o par romântico mas as suas famílias ligadas por uma antiga relação de trabalho. A relação entre Carlos e Cecília consubstancia-se pelas visitas do primeiro à casa da segunda com o objetivo de ser instruído na arte comercial pelo pai desta, vitimado pela doença. Neste percurso se traça a redenção de Carlos, cuja leviandade amorosa e desinteresse pelo mundo do trabalho são assim transformados em empenhamento marital e profissional. O trabalho surge, assim, não só como fonte de riqueza mas também de felicidade familiar e como motor de uma harmonia universal implícita na união de indivíduos de meios sociais muito diferentes. Neste sentido, pode afirmar-se que este romance atinge uma síntese, revelando-se Júlio Dinis capaz de explorar a verosimilhança dos arquétipos inconscientes do seu tempo, não só através da consideração da interioridade das suas personagens principais mas também e sobretudo graças aos polos temáticos em que assenta a sua narrativa: a família e o trabalho.

Escritor português, Júlio Dinis é o pseudónimo literário mais conhecido de Joaquim Guilherme Gomes
Coelho, entre os vários que o autor adotou ao longo da sua carreira literária. Nasceu a 14 de novembro de 1839, no Porto, e morreu a 12 de setembro de 1871, na mesma cidade. Licenciou-se em Medicina, mas dedicou-se sobretudo à literatura, podendo ser considerado como um escritor de transição, situado entre o fim do Romantismo e o início do Realismo. É autor de poesias, peças de teatro, textos de teorização literária, mas destaca-se sobretudo como romancista, deixando em pouco mais de trinta e dois anos de vida uma produção original e inovadora, que contribuiu grandemente para a criação do romance moderno em Portugal. Órfão de mãe aos seis anos, estudou na Academia Politécnica a partir de 1853, onde se relacionou com o poeta portuense Soares de Passos, e ingressou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto, em 1855, ano em que dois irmãos seus morrem, vítimas da tuberculose. Por essa altura, entrou para um grupo de teatro, o "Cenáculo", e escreveu as suas primeiras peças de teatro, que viriam a ser postumamente reunidas nos três volumes do Teatro Inédito, em 1946-1947. Em 1860, ano da morte de Soares de Passos, abandonou o "Cenáculo" e estreou-se na revista A Grinalda com poesias românticas que viriam a fazer parte das Poesias (1870). Em 1861, concluiu o curso de Medicina. Nos dois anos seguintes, publicou em folhetim no Jornal do Porto alguns dos contos que seriam postumamente compilados em Serões da Província, assinando ora Júlio Dinis, ora Diana de Aveleda. Em 1863, passou uma temporada em casa de familiares, em Ovar, para se tratar da tuberculose, declarada um ano antes. Aí, descobre os encantos da vida rural, que estará presente em grande parte das suas obras - Júlio Dinis foi principalmente um escritor de espaços, oferecendo-nos quadros onde revela uma preocupação pela veracidade nas descrições das aldeias, dos ambientes e caracteres, e na evolução da intriga. Em 1865, ingressou na Escola Médico-Cirúrgica, onde se formara, como demonstrador. O seu primeiro romance, As Pupilas do Senhor Reitor, é publicado em folhetins no Jornal do Porto, em 1866, e em volume um ano depois. Seguem-se-lhe, em 1868, Uma Família Inglesa (retrato da vida citadina, dando especial relevo à pequena burguesia nascente) e A Morgadinha dos Canaviais, no mesmo ano em que As Pupilas do Senhor Reitor, adaptadas ao teatro, são representadas no Teatro da Trindade. Em 1869, parte para a Madeira, em busca de uma melhoria do seu estado de saúde, regressando, um ano depois, ao Porto, onde publica os Serões da Província. No mesmo ano, concluiu o seu quarto romance, Os Fidalgos da Casa Mourisca, cujas provas tipográficas já não acabará de rever. Em 1871, no mesmo ano em que as Pupilas do Senhor Reitor são representadas no Rio de Janeiro, assinalando já a celebridade do escritor além fronteiras, morre prematuramente, vítima da tuberculose. Em 1874, surge o volume póstumo das Poesias e, em 1910, a compilação de textos narrativos e teóricos Inéditos e Esparsos. Júlio Dinis - cujo conhecimento da língua e da cultura inglesas (a sua mãe era de ascendência irlandesa) lhe possibilitou a leitura de novelistas como Jane Austen, Richardson, Thackeray e Dickens, cujas obras são marcadas pelo realismo psicológico - deixou uma produção romanesca eivada de componentes realistas e românticos. Assim, se a sua conceção do romance, exposta em Inéditos e Esparsos, baseada na lentidão da narrativa, na averiguação da verdade, no tratamento de temas familiares e quotidianos, o aproxima da estética realista, a idealização do campo, da mulher, da família, a tendência para a solução harmoniosa dos conflitos, o pendor moralizador dos desfechos das intrigas, o otimismo do seu ideal social, em que felicidade amorosa e harmonização social são indissociáveis, têm ressonâncias românticas.

O 25 de abril na EB de Tourais/Paranhos e na BE